Sistema Prisional

Porque tantas Mulheres no Tráfico?

Conquistando mais credibilidade dentro da sociedade, onde passou a exercer outro papel, a mulher saiu da condição de submissa, isso de forma inconteste, colocando à frente sua capacidade de liderança. Assim, aquelas que encontraram no crime uma solução para seus problemas, assumiram a posição de "chefia", como se estivesse atuando em qualquer outro setor ou carreira da vida.

Por: Elizabeth Misciasci*

Pelo próprio fato de ser Mulher, talvez até por uma questão genética, sua tendência a ser mais minuciosa, mais precavida, astuta, com raciocino mais rápido e visualizando os prós e os contras de um determinado "trabalho" o que na gíria do crime chama-se "fita", ela como "cabeça" é extremamente competente. As que nasceram com poder de liderar, e optaram pelo ilícito, o faz com muito mais determinação e reserva do que o homem.

Na verdade, acreditamos que a Mulher nunca foi o sexo frágil, o que se arrastou durante estes séculos, foi o explícito cultural imposto, que a sociedade Patriarcal, inculcou no feminil. Portanto nesta qualificação adotada, muitas passaram à vida, acreditando serem realmente o centro da fragilidade humana se submetendo involuntariamente a condição de ficarem ou estarem á uma margem social, sendo tão somente "sombra" do sexo masculino.

Adaptada a ser do homem sua serviçal, ou procriadora, não existindo a permissão, nem a opção de expor absolutamente nada, ela não se permitia, (mesmo porque inviável o era), aflorar nem mesmos seus mais secretos desejos, que se mantiveram escondidos, pela própria condição desde o berço, imposta.

Muitas transgrediram antes desta evolução, no entanto, não se dava muita importância, nem se criavam polemicas, sendo raríssimas as exceções, e estas, quando envolviam clamor, já que a mulher ainda era tratada como inferior e impotente. Assim, diante de delito de menor gravidade (como furto) ou mesmo crimes caracterizados como bárbaros, eram de forma geral, conceituadas como a "vergonha da família" pelos parentes, ou "mais uma maluca" pela mídia.

Contudo, junto a infração feminina, imperava de forma importante, o silencio da instituição familiar. Não interessando á ninguém trazer a público, a figura feminina criminosa, nem tão pouco havia consentimento dos próximos, que fatos envolvendo a mulher, fossem divulgados.

Já com a evolução dos tempos, a autonomia e as conquistas, outro perfil brotou, é onde podemos apontar a diferença da tipificação dos crimes e célere aumento das mulheres nos cárceres.


Após os longos e loucos anos dourados e com a própria Constituição de 1988, a Mulher aos poucos, foi se libertando e liberando, tomando consciência do seu papel dentro da sociedade. Certo que algumas se libertando, acabaram por caminhar a uma condicional e severa forma de aprisionamento.

O que antes era visto como vergonhoso no seio familiar, enfatizado como ato libidinoso, por uns, ou que fugia totalmente aos padrões familiares, começou a se romper á partir do momento em que aumentaram os litígios nas uniões chamadas de estáveis com muitas separações conjugais.

Um grande problema, que indubitavelmente acarretou uma fila de responsabilidades e mesmo que injustificável, é real,  esta no fato de que com as "grandes conquistas femininas" vieram às obrigações e o descaso contínuo e frequente de seus antigos maridos ou parceiros.

Atribuindo a mulher toda a responsabilidade para com a própria sobrevivência e de sua prole, onde o dever moral, para uma fatia da sociedade masculina passou ou continuou a ser ignorado, motivou e ainda levam muitas a ingressarem no universo da marginalidade.
Não adianta negar o que é fato, por mais que não se explique ou se aceite uma conduta ilícita, para justificar um ato delituoso, porém, impossível não mencioná-lo, já que é fator relevante que já empurrou e cada vez mais carrega muita para o lado de dentro das muralhas.


Embora não declarado, diversas encarceradas impetraram antes de seus delitos, ações judiciais contra pais, que alheios e displicentes, sem o menor senso ou sentimento para com sua "antiga família" oferecia o mínimo de condições para a subsistência ou educação de seus filhos.

Já a Mulher mais precavida e dificilmente irresponsável, por natureza, não troca de lar como quem troca de roupas... Assim sendo, longe do campo profissional, desatualizada sendo mulher e percebendo que cada tentativa amigável para com o ex, tornava-se um calvário, (o que não diminuiu tanto após ser sancionada a lei Maria da Penha). Evitando serem colocadas ainda mais em situações humilhantes, arriscando suas vidas, silenciavam seus dissabores e inconformados anos que se foram "dando um jeito" sozinhas.

Há aquelas que buscam na religião, uma mudança no quadro repleto de frustrações e dificuldades, outras nos familiares, mais as que não viram outra saída, partiram para o ilícito, e estas, são a maioria.

Pudemos perceber mulheres detidas, serem unânimes ao afirmar a inexistência de sentimentos, que sem a menor possibilidade de diálogo com o ex-companheiro, a ausência familiar, e a falta de fraternidade social, foram os agravantes á abrirem as portas para uma "caminhada errada."

Pelo temor carregado junto a separação do lar, onde o antigo parceiro, sempre representava o perigo e pelas incontáveis vezes em que eram revidadas, atacadas e agredidas verbal e fisicamente, por estes, algumas viram na "figura acessível" do tráfico e do traficante, uma forma de inibir seu agressor.

-"Em todo lugar tem ´biqueira´ tráfico e traficantes e as pessoas sabem; sabem e temem. Tá marrado, Deus me livre! Mais é assim e não foi só comigo... Se aproximar e se envolver é ´lance rápido´, dinheiro certo, e impõe respeito, basta querer". - Conta Leila Melo, que ficou por quatro anos presa por tráfico de drogas na antiga Penitenciária Feminina do Tatuapé.
Não se trata de justificar o injustificável, mais talvez compreender a razão pelas quais muitas transgridem e porque o tráfico de drogas é crime mais praticado pelo sexo feminino.

Não existe o crime preferido das mulheres, mas sim, o mais praticado, já que o Narcotráfico é o responsável por levar praticamente 70% das mulheres aos tribunais.

Por que no tráfico?

Porque no tráfico, a Mulher encontra a forma rápida de ganhar dinheiro.

Muitas alegam que sem dinheiro e sem oportunidades, "foram pras cabeças". Nas mais diversas histórias, as que mais se assemelham, (sendo a grande parte), vêm das mulheres que não tendo ajuda do ex-companheiro e se vendo abandonadas, após longos anos de vida em comum, vislumbraram no tráfico, por ser mais rápido e mais acessível á solução dos problemas financeiros. Outras, sem qualquer capacitação, fora do mercado de trabalho, não conseguiam emprego, mas, conseguiram "trabalho"... Em número menor, se concentra as que relatam o envolvimento com tráfico por amor a traficantes, e uma minoria contam serem vítimas de golpes e se dizem inocentes.

Por fim, seja com a separação e a necessidade de oferecer pelo menos o essencial para os filhos, seja pela falta de oportunidade diante de uma grave necessidade financeira, seja por relação afetiva ou amor bandido, o certo é que "elas" arriscaram e o resultado óbvio, é que, a maioria, cedo ou tarde, se deu mal, se deram e se darão.


Mulheres e o Narcotráfico by Elizabeth Misciasci zaP!
is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-2.5 Brasil License.
Based on a work at www.revistazap.org.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://www.eunanet.net/beth/index.php.


*Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial
Sem a autorização da Autora -Elizabeth Misciasci esta Vedada a Criação de Obras Derivadas com fins lucratícios 2.5 Brasil.
Para ver uma cópia desta licença, clique aqui ,ou envie uma carta para Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San Francisco, California 94105, USA.