Sistema Prisional

Falando com Mulheres e seus Crimes

A mulher na condição de pessoa presa costumava ser mais falante, com aptidão a se aproximar de quem confiava e estava sempre pronta a fazer pose e deixar se fotografar. Mas, tantas foram às vezes, que foram colocadas em situações de constrangimentos, principalmente diante de seus familiares após a divulgação de suas imagens, e, com o agravante de verem completamente modificados seus argumentos e entrevistas, que começaram a se calar.

Se assim passou a ser enquanto permanecem encarceradas, já na condição de egressas, aí então é que dificilmente se prestam a dar entrevistas, ou mostrarem o rosto. Quando há um concentimento, é porque o laço de confiança com quem esta declinando seu nome ou lhe entrevistando já foi respeitado, acertado e firmado há muito.

Por Elizabeth Misciasci

Não sendo uma regra, óbvio, mas passa a ser diferente, quando aquela que passou pelo cárcere, esta disposta a "lavar a alma", contestar, sem se preocupar com a repercussão, ou o que as pessoas próximas irão achar. Raras exceções...
Normalmente, isso se dá no calor da saída da prisão, com ´a cara já marcada´ não pensando ter mais nada a perder e crente que o retorno será a comoção pública ou providencias, no sentido de que a realidade vivida nos presídios mude, falam e depois... Se arrependem.

 

Como diz R.S.S. "Nem sempre, conseguimos nos desvincular de um meio que nos proporcionou em determinado momento, algum tipo de ´punição´ sendo esta em razão da prática de algo ilícito e ficar esperando que a sociedade entenda, somos rotuladas e ponto final.

Você diz uma coisa, sai outra. Isso sem falar, que com tanta gente ´tirando proveito´ de drama pra ganhar dinheiro, dizem uma porção de bobagem e depois querem nos ouvir.

Não há coisa pior, do que estarmos presas, e dentro da cela, vendo tv, ouvir um advogado ou algum expert, falar que cadeia é escola de crime, que não há recuperação, que a gente sai pior do que entrou que a pena de morte deveria ser aplicada. Isso, sem falar de uns e outros, que ainda chamam as mulheres que acabaram de serem presas, de ´vagabundas´, sem mesmo saber se são culpadas.

Alegam que pena alternativa é utopia, que não serve pra nada e o sistema por ser falido, destrói ainda mais o que ´não prestava antes´.

Imagina a gente, depois de ver tanta hipocrisia, pré julgamento e condenação antecipada, ouvindo uma pessoa que não sabe o dia de amanhã em as razões que nos trouxeram para uma penitenciária, ainda dizer que só vai pra cadeia Pobre, P...ta e Negro. Dá licença... É aí que nasce a revolta, pegam todas nós, sem distinção, colocam num pacote e jogam no lixo. {sic}

O que não sabem e nem querem saber é que há muitas mulheres bem sucedidas financeiramente e presas, que não somos vagabundas, pelo menos a maioria não. Seria interessante, que uma pessoa dessas, viesse nos ver de perto, saber quem somos o que respondemos e o que esperamos daqui e fora daqui.

Agora, é mais injusto com as egressas, porque depois de cumprirem suas penas, passam a pagar uma nova pena pra sociedade, que explora ou desdenha. Isso, quando não tratam como portadoras de doenças contagiosas.

Somos discriminadas, dentro ou fora da cadeia e isso não muda! Aí, pensam que pelo fato de uma errar e não querer se acertar, todas são iguais. Se há reincidência, há as que são do crime e não querem sair. Mas, também há aquelas que não agüentam viver na rua, porque a família não quer nem perto da antiga moradia.

Sei que não adianta falar muita coisa, mais este desabafo é porque além de um País injusto e desigual, não somos alienadas e temos acesso as informações, então, acho que os desinformados são estes, que com um meio de comunicação, ou nos exploram ou deterioram ainda mais o que esta completamente estraçalhado, ou melhor, nem existe mais...  O nosso amor próprio".

 

Talita, que esta em liberdade há três anos, hoje, com a ajuda da família, montou sua clínica de estética, fez cursos e concedeu uma entrevista a uma emissora de TV. Prometeram que não iriam deixar a voz, nem mostrar o rosto. - "No final, editaram a minha entrevista, mostraram meu perfil que ficou nítido quem eu era. Fui reconhecida por muita gente, lesada no meu trabalho, ofendida e a além da voz também ter sido mantida, me usaram pra colocar no ar uma entrevista que não tem nada a ver com que falei e com que eu esperava. Fui um gancho mal usado"...

 

Muito chateada, Talita tem como provar o relato, não concede mais nenhuma entrevista, e irá processar a emissora.

 

Talita é o nome fictício de C.M. que teve a boa vontade de se locomover até o local marcado para conceder a entrevista e diz que com isso, se sente punida e esta tendo além dos prejuízos financeiros, um enorme dano moral.

Já (entrevista da inicial) R.S.S. esta presa há 03 (três) anos e cinco meses, por furto qualificado. Atualmente, detida no  Instituto Penal Talavera Bruce, esta aguardando o julgamento de seu benefício, que dentro do prazo, esta pra sair.

 

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