Patologias do social
Organizado por Christian Dunker, Vladimir Safatle e Nelson da Silva Junior, livro propõe uma arqueologia do sofrimento psíquico
Fruto de quase dez anos de pesquisas em uma experiência inédita de colaboração continuada entre pesquisadores da Psicologia Clínica, da Psicologia Social e da Filosofia, realizada no Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da Universidade de São Paulo, a obra Patologias do social traz uma genealogia dos principais quadros consolidados pela história recente da psicopatologia, organizados em torno da hipótese de que as modalidades de sofrimento contêm uma forma de crítica e de resistência a expectativas sociais de reconhecimento.
Com organização do psicanalista Christian Dunker e do filósofo Vladimir Safatle, em parceria com o psicólogo Nelson da Silva Junior, o livro parte da desconstrução da racionalidade diagnóstica hegemônica para recuperar as implicações filosóficas de nossas modalidades de mal-estar. De acordo com Safatle, inexiste uma sociedade que não se fundamente em um complexo processo de gestão de patologias. "E tal gestão é uma dimensão maior, mas nem sempre completamente explícita, de reprodução social de afetos", comenta. Portanto, o objetivo é apresentar pesquisas, referências, estudos e textos que tentam compreender as modalidades do sofrimento e auxiliam na proposta de uma arqueologia e uma genealogia da história da psicopatologia.
Dividido em treze capítulos, Patologias do social retorna aos fundamentos da psicopatologia por meio do conceito central de "alienação", da revisão crítica da antropologia estruturalista e da reconstrução da teoria do reconhecimento, para então apresentar investigações que compreendem as sociedades como sistemas produtores e gestores de patologias. A necessidade da revisão do sofrimento por meio da psicanálise; o caso clínico como caso social; o corpo como um lugar de sofrimento social; diagnósticos sociais; narcisismo; fetichismo; esquizofrenia; paranoia e histeria como questão de gênero estão entre os temas abordados.
Para Nelson da Silvia Junior, estamos diante de uma realidade social que afeta a economia psíquica dos sujeitos, suas estruturas de gozo e sofrimento segundo uma modalidade específica. "Esse parece ser o efeito mais visível da era da instalação sobre o psiquismo e sua expressão do sofrimento, a saber, o progressivo silenciamento do sujeito da enunciação pelo sujeito do enunciado", diz.
"Nossa pesquisa procurou acolher e tomar em consideração, clinicamente, as críticas que se dirigem à psicanálise como clínica e, portanto, envolvendo uma racionalidade diagnóstica", conta Christian Dunker. "Por meio desse experimento, procuramos tornar legíveis impasses de racionalização que aparecem em sintomas, formas de sofrimento e figuras do mal-estar, contribuindo assim tanto para o campo da diagnóstica social como para o da diagnóstica psicanalítica", completa.
Para os organizadores, "se a história das nossas gramáticas de sofrimento é também a história dos impasses da individualização moderna, e se queremos colocar a psicanálise no horizonte da subjetividade de nossa época, nada mais próprio do que explicitar a valência política do sofrimento, como pretendemos fazer neste livro", afirmam.
Vladimir Safatle é doutor em Filosofia pela Université de Paris VIII e, atualmente, é professor livre-docente do departamento de Filosofia da USP. Foi visiting scholar da Universidade da California (Berkeley), além de professor-visitante das universidades de Paris VII, Paris VIII, Toulouse, Louvain e Stellenbosch (África do Sul). É autor, entre outros, de A paixão do negativo: Lacan e a dialética (2006); Cinismo e falência da crítica (2008); Fetichismo: colonizar o Outro (2010); Grande Hotel Abismo: por uma reconstrução da teoria do reconhecimento (2012); O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo (2016) e Introdução a Jacques Lacan (2017), os dois últimos pela Autêntica.
Nelson da Silva Junior é pós-doutor em Psicologia pela Université de Paris VII e pela USP, sendo livre-docente pela USP. Foi professor-visitante da Université de Bretagne Occidentale e atualmente é professor associado do Instituto de Psicologia da USP, atuando principalmente nos seguintes temas: corporeidade, impactos psíquicos do neoliberalismo, linguagem e epistemologia da psicanálise. É autor dos livros Le Fictionnel en Psychanalyse: une étude à partir de l´oeuvre de Fernando Pessoa (1999) e Linguagens e pensamento (2007).
Christian Dunker é psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da USP. Obteve o título de livre-docente em Psicologia Clínica após realizar seu pós-doutorado na Manchester Metropolitan University. Tem experiência na área clínica com ênfase em Psicanálise (Freud e Lacan), atuando principalmente nos seguintes temas: estrutura e epistemologia da prática clínica, teoria da constituição do sujeito, metapsicologia, filosofia da psicanálise e ciências da linguagem. É autor dos livros Estrutura e constituição da clínica psicanalítica (2011) e Mal-estar, sofrimento e sintoma (2015), ambos contemplados com o Prêmio Jabuti.
Arqueologias do sofrimento psíquico
Organização: Vladimir Safatle, Nelson da Silva Junior e Christian Dunker
