Cultura e Lazer

Músico estreia na literatura com romance finalista do National Book Award de 2014

Surpreendente e inovador, Wolf in white van reflete sobre escolhas, traumas

e os conflitos da juventude

 

 

WOLF IN WHITE VAN

 

JOHN DARNIELLE

 

Páginas: 224

Preço: R$ 34,90

Tradução: Rodrigo Salem e Carol Nogueira

Editora: Record

 

Vocalista e compositor da banda de indie-folk The Mountain Goats, o americano John Darnielle usa alguns temas recorrentes em suas canções: os outsiders, a vida em um mundo ao qual sentimos não pertencer.  Estes interesses se refletem ? e ganham força e profundidade ? em seu romance de estreia, Wolf in white van, que chega às livrarias pela Record em maio. Um dos finalistas do National Book Award de 2014, o livro aborda de forma inovadora os sentimentos conflituosos da juventude, as dificuldades de fazer escolhas e de lidar com elas.

O protagonista da história é Sean Phillips, um homem que, no passado, aos 17 anos, teve o rosto desfigurado por um acidente ? cujos detalhes serão revelados mais à frente. Durante o longo tempo que passa no hospital, ele começa a desenvolver um jogo interativo chamado Forte Itália, que acaba se tornando seu trabalho.  Ambientado num cenário pós-apocalíptico, o RPG funciona com um esquema de cartas trocadas pelo correio, no qual Sean vai criando novos mundos e guiando os jogadores com base em suas escolhas.

Narrado de forma não-linear, o texto apresenta uma série de reflexões de Sean, usadas para deixar o leitor cada vez mais perto de entender o tal acidente que mudou sua vida. Há memórias de infância, relatos sobre a vida com o rosto desfigurado, a difícil convivência com seus pais, sua obsessão por referências pop, a relação entre o que é ficção e realidade, e, principalmente, a comunicação entre Sean e seus jogadores ? em especial um casal de adolescentes que resolve levar o Forte Itália para a vida real e acaba provocando uma tragédia.

É impossível ganhar ou perder no Forte Itália, explica Sean em determinado momento da narrativa. A única opção é seguir em frente. Ou sair do jogo à sua própria maneira, como faz um dos jogadores. Wolf in white van é, no fim das contas,  uma investigação sobre a necessidade de escapar ? às vezes de si mesmo.

 

TRECHO:

 

?Ninguém nunca pergunta se pode olhar para o meu rosto. Exceto médicos e enfermeiras, é claro. As pessoas olham o tempo todo, mas geralmente apenas se estão convencidas de que não vou perceber. Tentam não parar de mexer os olhos enquanto olham na minha direção, agem como se estivessem examinando uma cena maior. Eu entendo um pouco ? a etiqueta manda não ficar encarando pessoas deformadas: você quer poupar os sentimentos delas. Não quer que elas se sintam feias. Ao mesmo tempo, antes mesmo de me tornar o que sou, eu costumava me perguntar: não estaria tudo bem encarar alguém se esse indivíduo se destaca? Por que não encarar? Minha própria perspectiva provavelmente foi estragada pelas longas horas que passei em frente a espelhos antes do acidente. Seria difícil fazer com que eu me sentisse ?feio?. Palavras como bonito e feio existem em um vocabulário diferente do que criamos para descrever um rosto que teve de ser reconstruído por uma equipe de cirurgiões. Meu rosto é estranho e terrível. Merece ser encarado ao menos um pouco.?

 

 

John Darnielle nasceu em Bloomington, Indiana, e cresceu no sul da Califórnia. Além de escritor, é vocalista, compositor e guitarrista da banda The Mountain Goats. "Wolf in white van" é seu primeiro romance. Darnielle vive hoje com a esposa e o filho na Carolina do Norte. Mais sobre sua banda em www.mountain-goats.com.